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domingo, 1 de janeiro de 2012

A. TITO FILHO (José de Arimathéa Tito Filho)

CRISTINO Castelo Branco faz, neste grito de revolta, o retrato mais fiel de A. TITO FILHO (José de Arimathéa Tito Filho), lutando nesta esquecida e paupérrima província do Piauí, com as armas da inteligência e da coragem, pela valorização das Letras como artífice do espírito que, para ele e para todo homem de pensamento, no dizer de Humberto de Campos, "é um encanto e um tormento".

"Seja, porém, como for, felizes ou infelizes, contentes ou desgraçados, aplaudidos ou apedrejados, ricos ou miseráveis, os homens de talento não esmorecem, e lutam, e trabalham, e produzem, enriquecendo sempre, cada vez mais, o patrimônio espiritual da Humanidade. Cumprem a sua finalidade social e histórica. Obedecem à fatalidade orgânica que os fez superiores à vala comum da mediocridade. Estão todos convencidos daquela altíssima e sempiterna verdade, proclamada pelo Dante Alighieri, em versos imortais da Divina Comédia de que "não se alcança, entre sanefas, em coxins, a fama", e de que "Quem percorre sem glória e gasta a vida,/Não deixa sobre a terra outro vestígio,/Mais que o fumo no ar, a espuma nágua".

Não se pode dizer, diante de sua versátil formação cultural, que A. TITO FILHO é, apenas, uma coisa: jornalista, crítico, poeta ou orador, embora tenhamos de reconhecer, para sermos pragmáticos, que ele tem dedicado a maior parte do seu tempo fazendo imprensa, tanto assim que o acadêmico Simplício de Sousa Mendes, ao recebê-lo na Academia Piauiense de Letras onde iria sentar-se na cadeira de seu pai, proclamou essa faceta de sua personalidade: "Cultor apaixonado do vernáculo, preceptor emérito da mocidade piauiense, colocais a vossa pena e o vosso estilo vibrante ao serviço da imprensa periódica".

ÓRFÃO materno ainda no albor de sua vida agitada, recebendo ainda na fase da inocência, desse Destino que às vezes tem gestos tão cruéis, como esse de ferir uma criança, uma punhalada brutal pelas costas, e amargando ainda na sua mocidade o golpe fatal da perda do pai que o homem atraiçoou também pelas costas, A. TITO FILHO plasmou a sua formação de revolta em revolta, fazendo da imprensa a sua trincheira e da sua inteligência a pólvora do seu arcabuz, com o qual, sem medir conseqüências como fazem os grandes heróis, tem destruído muitos Golias. Já imaginaram, a dor de um filho vendo o pai atirado numa cama durante vários anos? Já pensaram o que significa para um homem ver, nas costas de seu pai, o cabo do punhal de Bruttus e o sangue coagulado que vertera de suas veias rompidas? Já puderam aquilatar o que pode significar para um filho ter na memória, como um fantasma, a imagem do pai, inútil como uma boneca quebrada, estertorando longos anos na solidão de uma cama?

A. TITO FILHO guarda tudo isso no cofre do seu coração, com o terrível amargor de uma estranha saudade. Quem conhece a personalidade férrea de seu pai e conserva na memória a sua heróica vida jurídica que um ditador destruiu, há de convir que o filho único desse lar angustiado pelo Destino, é a imagem fiel do pai: na defesa dos injustiçados e na condenação dos que carregam a mácula da culpa e pedem clemência.

O filho guarda ainda, com muita nitidez, a desgraça emocional do pai, escrevendo ao lado da mãe morta, para consolar o coração partido, os versos que têm a marca da lágrima e o estigma do desespero:

"Dois anos, nove meses, vinte dias...
Que tempo curto para amor tão forte!
Nize! que mãos tão gélidas, tão frias!
Nize! Sem ti sou náufrago sem norte...

O nosso teto claro. Hoje, sombrias
As paredes, não há quem lhes suporte.
Tudo denota as fúnebres magias
Da figura tristíssima da morte.

Parece sonho... Mas ficou no mundo
Um serzinho gentil, rebento santo
Do nosso amor grandíloquo e profundo.

Deus te guarde no Céu, morta querida
Como nosso filhinho guarda o pranto,
- Sinal eterno de eternal ferida".

NA literatura piauiense A. TITO FILHO tem sido uma espécie de guia, prefaciando uma quantidade incontável de obras, conduta que apresenta duas faces positivas para os incipientes: encoraja-os a enfrentar o bicho-papão da crítica especializada ou pública e incentiva-os, nos seus primeiros passos nos meandros das Letras, cometendo apenas o pecado - segundo me parece - de se exceder em louvores, com graves prejuízos para a maioria, que se envaidece e, por isso mesmo, já pensando que está consagrado diante da valiosa opinião de um Mestre como ele, reduzindo, por isso mesmo, a produção literária ou encostando, de uma vez, a pena ou deixando empoeirar a máquina de escrever. Esse comportamento que é nato da bondade nazarena de A. TITO FILHO, às vezes gera ingratidões, como uma que assistimos há pouco tempo, de um poeta camoniano que, com alguns livros fracos publicados, com o mérito apenas do sentimento poético que nele é seivoso, armou-se do direito de criticá-lo sem a prudência de ver nele, antes de mais nada, o seu antigo pai espiritual ou, pelo menos, para ser grato ao favor recebido, o generoso caminheiro que achou na estrada, que lhe estirou a mão e lhe deu, sem cobrar ou esperar recompensa, alguns grãos de alpistes, para saciar ou minorar a fome de luz que carregava na cabeça sonhadora. HÁ de se ressaltar, todavia, um outro aspecto da personalidade de A. TITO FILHO, muito similar com a conduta do autor desta obra há muito reclamada pelo Piauí: a sua virulência na reação aos que lhe atiram pedras, devolvendo às vezes dez em quem lhe joga apenas uma ou duas, jamais partindo de sua funda de Davi o primeiro petardo, ou o primeiro disparo do seu arcabuz.

CONHECIDO em todo o Brasil por força de seu invejável poder de comunicação, e do seu trabalho literário e jornalístico, A. TITO FILHO, sem nenhum intuito de lisonja exacerbada ou de bondade paternal, é hoje, para honra do Piauí, um nome nacional, devendo-se reconhecer que, fora das nossas lindes, o seu nome cresceu mais como orador, herança legítima do pai, que levou seu recipiendário na Casa de Lucídio Freitas - Simplício de Sousa Mendes - a este conceito justo: "Tal qual se ouviu - sucessor do pai ilustre e do patrono, que fulgem na galeria dos grandes homens do Piauí - teceu, como de praxe, com exatidão, fervor e eloqüência de estilo, o panegírico de ambos que, nas letras e nas atividades superiores do nosso Estado e da Pátria, conquistaram o galardão supremo da imortalidade".

COMO padrinho dos novos das letras do Piauí, para que todos sintam o seu zelo e a sua preocupação pelos marinheiros de primeira viagem da literatura de sua terra natal, trago a este livro que estava faltando nas estantes do Piauí, alguns conceitos de A. TITO FILHO sobre aqueles que, como eu, bateram a sua porta para receber dele, como um pajé que abençoa e que perdoa, o conselho útil, a orientação segura, para trilharem, com maior tranqüilidade, só caminhos traiçoeiros das letras - aqui iluminados pelo sol ardente do sucesso, ali mergulhados na escuridão do fracasso.

APRESENTANDO o livro COLHEITA MÍSTICA, do poeta José Ribeiro e Silva, por sinal a primeira gestação do inspirado vate: "Li, faz anos, muitos anos faz, esta indicação de Anatole France: os poetas não fazem concorrências aos filósofos porque estes pensam e aqueles não precisam de pensar. Anatole derribava, assim, o conceito de Brunetière: ‘O que se exige de um poeta é que ele saiba, que observe e que pense, entrando, de algum modo, na vida comum’. De feito, Anatole pretendia apenas que os poetas não fôssem filósofos, que não pensassem, mas sentissem. Poesia corresponde a sentimento, embora não seja incompatível com os grandes pensamentos.

EM COLHEITA MÍSTICA, José Ribeiro e Silva não esquece o drama social dos homens, medita acerca de Deus e do mundo, procura uma interpretação para o amor - e produz aquilo que poderia chamar-se de poesia-ideologia, como Vogt, entusiasta, viril, obstinado, porém lírico, marcadamente subjetivo, de íntima espiritualidade. Harmoniza Anatole e Brunetière: pensa e sente. Busca o conteúdo sério dos temas e trata-o com personalidade original, solitária, sensível, afetiva. Provoca manifestações de poesia pura, a chamada poesia essencial, que é segredo d'alma, depoimento de afetos e concepções. Poesia reduzida à tênue e sutil expressão dos notáveis dramas interiores.

Aqui e ali José Ribeiro e Silva revela curiosidade infantil a respeito da vida - das paisagens, das gentes, dos gestos - e passa ao amor, a paz que é a conseqüência dos que amam, e concentra-se na natureza do homem, para romper os limites do real e situar os que lêem entre o que seja verdadeiro e o que seja imaginário.

Não estará em erro quem disser que José Ribeiro e Silva pertence ao movimento de renovação poética da atualidade. Nele se agita o objetivo de criação da poesia sensorial: cada palavra tem uma alma e cada verso, além da harmonia verbal, terá uma melodia ideal. A música é a idéia, e o seu ponto de partida se concentra na mais absoluta liberdade. Vai adiante. Sabe romper com a tradição para construir uma visão lírica do passado e para interpretar, às vezes enamoradamente, todos os horizontes: os heróis, as cenas da vida, o verdadeiro, o rico, o sonoro, o sonho. No poeta o mundo deixa de ser beleza e transforma-se em interrogação.

É preciso sentir no autor de COLHEITA MÍSTICA, como o grande toque de sua poesia, o sentimento do espírito coletivo, e isto quer dizer: fraternidade e amor da liberdade.

MAIS um instante de poesia nasce no Piauí - um instante de solenidade para vigoramento das letras e projeção de um poeta da beleza como universalidade e finalidade, e da harmonia como totalização da beleza, segundo Lalo".

PREFACIANDO o livro póstumo da poetisa CRISTINA LEITE, mestre A. TITO FILHO diz, entre outras considerações:

"IMPRESSIONANTE, Professora Cristina, a sua viagem de anotação do lirismo dos dias que correm - ambos partidos do "trabalho" do povo. Fez a Mestra como queria Gustavo Freitag: para que se aprecie a evolução da poesia popular, basta observar o povo na sua época, com as suas características, com os seus costumes, com as suas virtudes, as suas paisagens, os seus consentimentos e as suas condenações.

POR que foi quase essencialmente amorosa a poesia medieval? Porque no século XII se definiu uma nova ordem econômica - o regime da propriedade de que nasce a força para defendê-la. Criaram só senhores feudais, com esse objetivo, a cavalaria, e ao lado da defesa da propriedade surgiria a defesa da fé, nas Cruzadas - e do heroísmo e da aventura promanaria o espírito cortês, sobre a base do amor, da valorização da mulher, da sua divinização, e trouvèrs e troubadours - na observação de Cláudio Araújo Lima - cantaram e improvisaram romances heróicos, os primeiros, e dramas e episódios amorosos, os segundos - estes finalmente apoiados no típico sentimento provençal".

TRAZER a estes retalhos biográficos, de curto fôlego, tudo aquilo que A. TITO FILHO escreveu sobre autores novos e velhos, seria alterar a estrutura de um estudo que, pelas suas características sintéticas, não deve ir além do eco de um grito. O autor desta obra, transpondo par aqui, as duas opiniões acima, quis mostrar, apenas, notadamente para quem não conhece a profundidade cultural deste Mestre, que ainda aguarda o prêmio maior de sua luta para cultura do seu Estado, a seriedade de sua conceituações, feitas, como foi visto, dentro do rígido critério de análise, para poder ter força e validade perante a exigente e desumana opinião pública, obediente ao que ensinou MACHADO DE ASSIS: "... a crítica que não analisa é a mais cômoda, mas não pode a pretender a ser fecunda". E se, às vezes, extrapolou os limites da tolerância nos seus conceitos, com uma obra na mão, publicada ou ainda inédita, foi porque a sua bondade não pôde reter a sensibilidade imensa de seu coração, chegando vez por outra a embargar a voz na leitura de um verso ou de uma frase em que o autor escreveu molhando a pena na lágrima sentida que saltou do coração.

O autor desta obra vem acompanhando, com todo o desvelo, como quem observa, extasiado, a trajetória do sol pisando a concha azul do céu, a vida cultural de A. TITO FILHO, fazendo esta confissão em livro autobiográfico ("PISANDO OS MEUS CAMINHOS") à escritora Lili Castelo Branco ("HERMELIDA" e "OS AMORES DE TOMÁS"): "A. Tito Filho, a quem a senhora pede, no sublime encanto de sua linguagem de mulher, que atente para a minha vida, lembrando-lhe o dever de me conduzir à Casa de Lucídio Freitas (Academia Piauiense de Letras), certamente não vai se servir de sua rogativa, como o oleiro hábil e experiente que não precisa de mestre para fabricar com esmero o seu tijolo, a sua telha e o seu alguidar, pois ele tem andado comigo de braços dados, pelos caminhos acidentados da minha vida de homem de letras".

DE sua pena, que ora reza e que ora fere, como um Messias que orasse pela salvação de um pecador ou que zurzisse com um chicote de cordas os profanadores do Templo, saiu o retrato mais fiel do autor deste livro - tão real como uma tela de Renoir, em que a luz parece gritar: "A infância de sofrimentos materiais e a mocidade do mesmo jeito, fizeram de J. Miguel de Matos, o pessimista, a dizer que, embora realizado por virtude do esforço da inteligência, continua a sofrer porque ama o próximo e a humanidade. Distribuiu poesias sentimentais por muitos jornais e revistas, - verdadeiros cânticos de amargura e inquietação. Observador das paisagens e dos homens que nelas se agitam, escreveu a novela "BRÁS DA SANTINHA", de que ele participa como personagem de um mundo que o educou para a sublimidade das grandes resignações".

NÃO é, porém - e Deus é testemunha disso - a comunhão humana e cultural que tanto afeto gerou entre mim e A. TITO FILHO, que me faz biografar, com os recursos pobres da minha cultura, este gigante das letras do Brasil, porque ele, como homem de pensamento, já é patrimônio nacional, podendo, sem nenhum favor, sentar-se numa poltrona da Academia Brasileira de Letras, que deve desconhecê-lo, apenas, por ser ele, como tantos valores, mais conhecido na quase desconhecida e opaca província do Piauí, que tem sepultado, por isso mesmo, na poeira de seu olvido crônico, figuras luminares como Higino Cunha ("Nas guerras e nas revoluções, às vezes, o burguês e aldeão mais pacífico e ordeiro, que jamais pensou em fazer mal a ninguém, incorpora-se na multidão incendiária e pratica prodígios de bravura, tornando-se, afinal, herói ou bandido, se porventura vencedora ou vencida a causa que adotou, por acaso. Mas isto não é somente infantil ou atávico, mas de todos os tempos, porque é puramente humana"), Clodoaldo Freitas ("Não posso compreender e muito menos invejar as vanglórias do poder. Quem transita por essas alturas, exposto aos vendavais de todos os ódios oriundos de interesses em conflito, será realmente feliz? Não vejo porque. As contrariedades do poder amargam muito mais que as suas delícias") e, para citar só três do grande rosário de talentos do Piauí, Abdias Neves ("Na torre de marfim do sofrimento/Viveu de sombra, louco visionário;/O venticelo da fortuna é vário,/É vário o amor, esvai-se num momento. //Julgas-te forte e grande e necessário/E és pó, apenas pó em movimento;/Só te anima o calor do pensamento/Na eterna cisma do viver nefário.//Homem também, contigo bebo e sinto/Os travos e a embriaguez do acre absinto/Da dúvida fatal que a vida encerra.//Mas, não me cegas, tu, vaidade humana,/Sei que só a matéria é soberana/E que o pó voltará ao pó da terra"). 

TODAVIA, o apego do homem de pensamento ao torrão natal, na sua condição biológica de sentimental que chora a morte de um colibri como se estivesse assistindo, de alma ferida, a morte do ente mais querido, justifica plenamente a permanência sempre definitiva dos que cresceram nas letras, ora usando do recurso da prosa, ora trabalhando a essência da poesia, na terra humilde que o viu nascer, não o inferioriza em nada, sentindo-se "bem em ser, antes e acima de tudo, homem da sua terra, do seu meio, da sua gente, cujos problemas e cuja história o preocupam e são objetos constantes de suas meditações".

NA Academia Piauiense de Letras o seu trabalho tem sido de gigante, ora defendendo-a das críticas que lhe são atiradas na face augusta, ora recebendo um novo imortal e ora engajado com as lutas eleitorais parecendo que a sua simpatia propende mais para os valores autênticos, embora respeite qualquer formação cultural que procure os quadros da Casa de Lucídio Freitas, como um pegureiro que acolhe os que entram e os que já se encontram no seu rebanho, ou como um ministro de Deus que vê em todos, indistintamente, criaturas que carecem do amparo de sua mão.

AO tomar posse na cadeira nº 29 (de Patrono GREGÓRIO TAUMATURGO DE AZEVEDO) e de último ocupante seu venerável pai (Desembargador JOSÉ DE ARIMATHÉA TITO), fez esta confissão oculta de sua humildade tão digna dos lábios de um São Francisco - humildade que ele aprendeu sofrendo ou herdou do dote congenital paterno:

"GOSTARIA de ser humilde, de não me ensoberbecer. Admiro até à inveja os que não são mansos de espírito, os que não ambicionaram os que se contentam com a planície, distanciados dos triunfos e escondidos dos aplausos".

A. TITO FILHO, este grande de instante da literatura e do jornalismo do Piauí, nasceu na cidade de Barras, terra-berço, também, de seu pai. Cidade bucólica e de vida pacata, parece se embalar na cantiga do Rio Maratoã, em cujo chão caminho musicando nos lajedos grandes do seu leito e franjando, lindamente, em espumas de prata, nas lianas que bordam suas margens roídas pelos dentes das águas. Ao nascer, diante dos olhos espantados do pai que ia ter nele seu único rebento, os olhos da parteira chispando alegria, a folhinha marcava o dia 27 de outubro de 1924. D. Nize, subitamente liberta das terríveis dores do parto, dormia tranquilamente, sem saber ainda que Deus fizera gerar no seu ventre um dos gênios do Piauí: o futuro imortal TITO FILHO.

Fez as primeiras letras com a tia paterna Honorina Tito, em Barras. Parte do curso primário, fê-la no Colégio Diocesano, de Teresina, em que prestou exame de admissão e fez o primeiro ano do ginásio. Curso secundário, concluído no antigo LICEU PIAUIENSE, por onde passaram, talvez por determinismo, uma caravana de grandes homens do Piauí. O curso pré-jurídico fez A. TITO FILHO no LICEU DO CEARÁ, outro educandário tradicional que deu muitos homens ilustres à terra de Capistrano de Abreu. Cursou quatro anos a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, e o último fez na Faculdade de Direito do Piauí, obtendo nota dez em quase todas as disciplinas do currículo acadêmico. Foi orador da sua turma. Prestou exame para professor de Português junto à Faculdade de Direito do Piauí, obtendo a nota 9,8. Submeteu-se a concurso de provas e títulos para catedrático de Português do Colégio Estadual do Piauí, hoje com a denominação de "Colégio Estadual Zacarias de Góis", sendo aprovado com distinção com a nota 9,8 (a segunda nota em concursos em toda a vida do educandário), em que lecionou, também, Estudos Sociais e Organização Social e Política Brasileira. Foi professor de Sociologia da Escola Normal do Piauí e de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia do Piauí. Advogado. Jornalista. Professor de Português do Colégio Diocesano, do Colégio Leão XIII, do Colégio Demóstenes Avelino. Diretor de "Panóplia", revista da Associação dos Jornalistas. Diretor do "Jornal do Piauí" e Diretor-Secretário da "Folha do Nordeste". Redator do jornal "Estado do Piauí". Colaborador de todos os jornais de Teresina e de revistas do Rio de Janeiro. Exerceu o mandato de Deputado Estadual, durante quatro meses, revelando-se nesse curtíssimo espaço de tempo, um parlamentar seguro e conhecedor profundo dos problemas do seu povo. Diretor do Colégio Estadual, da Associação dos Jornalistas do Estado do Piauí (3 mandatos), Interventor da Federação de Futebol, da qual foi o organizador. Presidente da COAP e seu Consultor Jurídico, no Piauí. Assessor do Ministério da Agricultura no Piauí, por alguns anos. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí. Professor de Português do DASP e da CADES.

Tem o mestre A. TITO FILHO participado de vários congressos culturais e jornalísticos, sempre se sobressaindo como a maior figura nesses conclaves em que, pelo seu talento e pela sua cultura, tem elevado muito alto o nome de sua terra, venho dizer que mais como orador, que é um dos maiores do Piauí, ainda por herança do Pai. Do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Piauí, com atividade altamente relevante em benefício de sua classe, muito esquecida e muito desprestigiada nesta ainda inculta província do Piauí. Do Conselho Estadual de Cultura, estando no momento no exercício da sua Presidência. Ex-diretor da Biblioteca da "Casa Anísio Britto" (Arquivo Público). Professor há longos anos, é um dos maiores nomes do Magistério piauiense, parecendo que ensinar, para ele, diariamente metido na sua bata branca, é a maior paixão de sua vida. Ex-Chefe de Administração do Ministério da Agricultura, no Piauí. Procurador do Instituto de Assistência e Previdência do Piauí (IAPEP). Publicou: "O PROBLEMA DA INFÂNCIA CRIMINOSA", "COMBUSTÍVEL E ALIMENTO: FATORES DE PROGRESSO DOS POVOS" e "DA ATUALIDADE DO LATIM USUAL". Secretário-Geral da Academia Piauiense de Letras, com dois mandatos consecutivos. Com o falecimento de Simplício de Sousa Mendes, assumiu a presidência da Casa de Lucídio Freitas, por um ano, sendo, em 1971, eleito, por unanimidade de votos de seus ilustres pares, para o biênio 1972/73. Relator e principal redator do Código de Ética do jornalismo Brasileiro, no Congresso de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Secretário de Educação e Cultura, no governo Clímaco d'Almeida. Recentemente, publicou um trabalho lexicológico da "LIRA SERTANEJA", de Hermínio Castelo Branco, recebido do autor desta obra, no "Jornal do Piauí", do jornalista José Vieira Chaves, em forma de epístola, a seguinte conceituação:

"QUANDO recebi a LIRA SERTANEJA, de Hermínio Castelo Branco, que me chegou às mãos por sua nímia bondade e por oferta do governador Alberto Tavares Silva ao discípulo e ao governador eremita, que fez do bairro humilde onde mora, um refúgio para as suas meditações graves, dialogando muitas vezes com as sombras e com o silêncio tumultuar das horas mortas para ir matando o tempo que vai findar por lhe matar, senti novamente a forte pulsação do seu amor à terra natal e à cultura, sem usar nas suas apreciações daquela ferocidade de Agripino Grieco que, inversamente ao caro Mestre, não possui aquele doce sentimento de perdoar os caminhantes das letras, nem a impiedade nerina de Antonio Albalat, que se transformou em verme para mastigar e deglutir, violando o sossego dos túmulos, as vísceras sagradas de Émile Zola e Anatole France, autopsiando com o bisturi amolado da sua crítica, como um analista desalmado que acharia desvirtude até em Jesus de Nazaré, na defesa intransigente da pureza literária, os criadores imortais de Germinal e Os Deuses Têm Sede, que são dois monumentos da literatura universal. Na LIRA SERTANEJA o mestre está presente com um glossário, que representa para a obra de Hermínio Castelo Branco, a complementação do livro, como a última mão-de-tinta que se dá numa construção para terminá-la ou como a hóstia que o padre levanta nas mãos orantes, indicando o momento mais alto da missa".

JÁ foi publicado, o primeiro volume de "Viagens ao Dicionário" - etimologia, filologia e semântica, que abrange dez volumes. Em preparo e já concluído o primeiro volume do livro "John Bull e Tio Sam: Invasão" - estudo de anglicismos na língua portuguesa, em seis volumes.

NÃO vá o meu crítico do futuro, pelo sentido apologético que quase sempre dou as minhas obras, dizer que eu estou adorando santo de mentira ou prestando honraria a general de chumbo, ao esculpir a efígie de A. TITO FILHO e de outros valores da literatura do Piauí!

NÃO vá afirmar aquele que vai dissecar a minha obra literária que eu quis, ao falar sobre as personalidades literárias do Piauí, modelar em bronze quem só merece herma de gesso ou de areia!

E se o quiser fazer, por legítimo direito, essa espécie de crítico, é preciso que estude, como eu estudei, paciente e profundamente, a formação cultural e humana de cada qual, para poder verificar, depois daquela análise reclamada por Machado de Assis e José Veríssimo ("A crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse do ódio, quer o da adulação ou da simpatia, procure reproduzir unicamente os juízes da sua consciência").

SE me excedi em louvações biografando meus personagens, talvez não tenha sido por exagerada admiração, mas por aquelas amálgamas que constituíram a formação do autor de "Dom Casmurro", na denúncia sutil de Mário de Alencar: "Suscetível, suspicaz, delicado em extremo, receava magoar ainda que dizendo a verdade".


MATOS, J. Miguel de. Perfis. Teresina: COMEPI, 1970. Pág. 191-200.  

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