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terça-feira, 3 de abril de 2012

LUTA E VERDADES DO MESTRE

Na primeira sessão da Academia Piauiense de Letras, depois do falecimento do seu presidente, foi ofertado aos acadêmicos, pela viúva Delci Maria, o último livro (ainda não lançado oficialmente) do nosso saudoso A. Tito Filho, livro contendo crônicas selecionadas sob o título TEMAS ATUAIS e que, na nossa opinião, sintetizam a luta e o pensamento social do mestre e grande homem que o Piauí perdeu a 23 de junho próximo passado.

Se não há remédio a perda, há entretanto o consolo de aproveitarmos este espaço, mostrando, desse último livro, algumas jóias da inteligência e do trabalho conceitual do humanista e sociólogo que foi José de Arimathéa Tito Filho:

"A televisão pratica o verdadeiro crime espiritual, uniformizando o Brasil. Música, cantoria, cozinha, vestuário, usos, hábitos, costumes, estória, sexo, brinquedos infantis, teatro, cinema, linguajar, lendas e diversões, tudo se vai bitolando para que se eduque um pobre povo abandonado e que se orienta, para comprar, para gastar dinheiro na imposição de quanta impostura o poder industrial fabrique".

"Desapareceram as práticas regionais. Sufocou-se a arte verdadeira. Impera a subliteratura. A deformação é geral. O Brasil está totalmente submisso a uma civilização empacotada. (Ainda Televisão, páginas 14 e 15).

"A mocidade está rica de maus exemplos, em protestos freqüentes contra a alta sociedade doente que cria a seu modo e fisionomia. Há frustrações econômicas e sexuais nos espancamentos e nos assassinatos". (Constituições, página. 17).

"Desde muitos anos a vida social brasileira se vem deteriorando, dia por dia, nos valores espirituais, sobremodo, e mais do que tudo na ausência de pudor e de honestidade. Vigora o cinismo e o homem não se envergonha dos atos mais condenáveis em busca das bacanais de sexo e álcool e na obtenção de dinheiro a qualquer preço. A alta roda vive de futilidades, mas goza de privilégios incontáveis, a classe média se extingue na baixa renda e no sacrifício das prestações, sem o necessário para o sustento familiar, e o operariado vegeta nas angústias permanentes da habitação desumana e da fome endêmica". (Deterioração, página 18).

"As sociedades injustas não podem ter tranqüilidade, nem paz, nem sossego". (Gente Famosa, página 25).

"O bom negro brasileiro foi hipocritamente festejado no dia 13 de maio, cem anos da Lei Áurea, que acabou com a escravatura conforme dizem os forjadores de lorotas. Escravos continuam pretos, mulatos, índios e brancos sem dinheiro" (Escravatura, página 30).

"Liquidou-se o senso de moralidade. Aboliram-se práticas de leitura e de aprimoramento da inteligência. No prazer se fixam todas as vontades. Valem os instintos. Desapareceu a honra. O trabalho ainda vigora, mas incômodo" (Revolução Industrial, página 33).

"O raquítico salário-mínimo do trabalhador, quando arranja emprego, mal dá o transporte" (Busca da Megalópole, página 45).

"Salvar o menor é, antes de tudo, dignificar a família, concedendo-se a esta as condições para auferir os bens essenciais da vida" (Menores, página 47).


Hardi Filho, 19-20/07/1992, Jornal O Dia, p. 4 

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