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domingo, 2 de outubro de 2011

Anglo-Norte Americanismos no Português do Brasil

por Teresinka Pereira, University of Colorado.

Gordon M. Mirick, diretor do Bureau de Curriculum dos Estudos Internacionais, prefaciando a gramática de Maria de Sá Pereira(1), começa assim:

"Nunca é o pôr-do-sol para os americanos que trabalham, vivem, estudam ou viajam pelos países cujas línguas diferem radicalmente da sua".

Quero começar aqui repetindo estas palavras do eminente diretor do IS, mudando apenas o gentílico "americanos" para "brasileiros" e completando com a menção do nome de A. Tito Filho. homem de Leis e de Letras, A. Tito Filho trabalha intensamente e com uma dedicação admirável pela divulgação da cultura e pela educação do povo brasileiro. Conhecedor profundo da língua portuguesa e portador de uma cultura vastíssima, ninguém melhor que ele poderia realizar o empreendimento difícil e de exaustiva pesquisa que representa a preparação deste livro intitulado Anglo-Norte Americanismos no Português do Brasil (2).

O que o professor A. Tito Filho apresenta neste livro, como resultado de uma intensa investigação lingüística sobre o intercâmbio entre o povo brasileiro e o estadunidense não se limita ao comercial, mas abrange todos os campos culturais: o esportivo, o espiritual, religioso, político e o literário. A linguagem brasileira se apresenta, neste final do século XX, contaminada e enriquecida de inúmeros anglicismos, os quais o autor a aceita como "empréstimos lingüísticos" porque eles refletem uma necessidade social. Em outras palavras, e para usar um verbo já registrado no Dicionário da Língua Portuguesa (3), o que A. Tito Filho admite é que o povo brasileiro tem anglicizado a sua língua a tal ponto que é necessário prover-lhe com uma séria e extensa fonte de consulta. É para aqueles que, tendo estudado ou não o idioma inglês, precisam se informar de como determinada palavra inglesa está sendo usada no Brasil. Cito, por exemplo, um verbete do dicionário: o verbo "equeezar" vem do inglês "to equeeze" e significa "apertar".

A pesquisa do professor A. Tito Filho abrange uma área muito mais extensa que a de uma simples catalogação dos anglicismos com os seus significados. Isto seria fazer um trabalho normalmente apresentado pelos grandes autores de dicionário como Larousse e Augé que em páginas coloridas no meio ou ao final do volume, apresentam as palavras estrangeiras incorporadas à língua pátria com seus significados. no dicionário de A. Tito Filho há também uma espécie de histórico da penetração do anglicismo no Brasil, incluindo o sentido que teve a palavra nas diferentes épocas e do grupo que a usa segundo a idade de seus componentes ou a sua classe profissional ou social:

"Dancing:
Indica salão de dança, reunião dançante, escola de dança, estabelecimento público onde se dança e se aprende a dançar". (p. 162)

Oferece também a semântica e a etimologia da palavra. Por exemplo: "Daisy (às vezes aportuguesado em deise) é o mesmo que margarida. Assim se lê a explicação de A. Tito Filho:

"No velho inglês houve daegeseage, corresponde a day's eye (olho do dia), porque certas espécies da flor se abrem pela manhã para mostrar um disco amarelo e se fecham de noite". (p. 162)

Mais que isto, há também, para certas palavras, uma bibliografia de seu registro pelos principais autores de dicionários da língua portuguesa. Por exemplo, para explicar a palavra "Dandy", ele cita a Mesquita de Carvalho e também a Carolina Michaelis:

"...na 7ª edição do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, acolheu dândi com o significado de 'casquilho', enfeitado exageradamente, aquele que trata muito de sua aparência". (p. 163)

Apresenta também alguns exemplos do uso do anglicismo por alguns importantes escritores nacionais, que acolhem a forma inglesa como o faz Juarez da Gama Batista, que no seu texto "Sentido trágico em José Lins do Rego", diz "...travestido de dandy, de elegante do Recife".

Na introdução do livro, A. Tito Filho cita, em vasta bibliografia, a opinião de filólogos internacionalmente reconhecidos como Edwar Sapir, Albert Dauzat, J. Vendryes, sobre o problema da importação de palavras. Mas seu melhor defensor parece ser mesmo o compatrício, autor de Tratado de Semântica Geral, Silveira Bueno, que é especialmente citado por A. Tito Filho e que repetimos aqui:

"A tese do purismo dos idiomas é perfeitamente anticientífica e pode ser defendida somente por aqueles que ainda não deram acordo do seu atraso filológico". (p. 07)

Dicionário ou Vocabulário, ou mesmo Livro de “Anglomania" como diria Assis Memória, este volume publicado pela Nórdica vem aprontar uma grande contribuição para os estudos de lingüística no Brasil. Nós, os que nos servimos da palavra não só para a comunicação de nossos sentimentos, mas também para o intercâmbio educacional e pedagógico só podemos agradecer e elogiar ao Professor A. Tito Filho pelo enorme subsídio que nos entrega, fruto de árduo e vigoroso trabalho de erudição.

Notas:

(1) Sá Pereira, Maria de Lourdes: Brazilian Portuguesa Grammar. Boston: D.C. Heath and Company, 1984. "Foreword" pp. v-vii.

(2) Tito Filho, A.: Anglo-Norte Americanismo no Português do Brasil. Rio de Janeiro: Nórdica, 1986.

(3) Buarque de Holanda Ferreira, Aurélio: Novo Dicionário da Língua Portuguesa, sem data.


IN: Tito, Delci Maria (Org.), Revista da Academia Piauiense de Letras, p. 61-63, 1988. 

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