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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

TITO FILHO - namorador-mor de Teresina

Como poderia registrar o meu profundo sentir pelo falecimento do grande mentor da nossa Academia Piauiense de Letras e da própria intelectualidade piauiense em apenas uma crônica de jornal? Impossível. Conheci o Profº Tito filho desde que baixei em Teresina, com todas as malas, resolvido a morar. Foi sempre o homem preocupado com os destinos desta cidade, desde a pobreza do seu povo, a maioria, até a situação do patrimônio arquitetônico que se vai extinguindo. Quem não o conhecia? Muito poucos. Um homem popular pela sua atuação na imprensa, na cátedra, nos cargos e funções que exerceu (a todos chamado pela competência), por sua atuação na crônica desta cidade que tanto amou, embora não sendo sua de nascimento. A. Tito Filho era o tipo do homem cordial mas enérgico. Mandava com doçura e humildade. Não sinto nenhuma dificuldade em dizer isto, agora que ele se transportou para outras esferas - pois sabia que era isto que eu pensava (e penso). Recebia a todos com carinho de filho ou como irmão. Tinha um coração de poeta e a voz e a potência de um orador, dos grandes que era, dos mais persuasivos, dos mais convincentes. Irritava-se coma sem-vergonhice da política mesquinha, da patifaria reinante no Brasil das últimas décadas, dos ódios pessoais e partidários ou sociais. Conhecia profundamente a linguagem do povo e trazia seus termos, seus ditos, sua frase para os trabalhos intelectuais e culturais do fazer diário. ele via as suas emoções e as transportava para o papel com elegância e sem afetação, tudo ao nível da classe que lê jornal ou que vai à escola e aprende as primeiras e médias letras. No rádio, na televisão, na correspondência, a mesma polidez, a mesma economia de palavras, a mesma segurança na concisão de seu inconfundível estilo. Um homem bem humorado até nos seus últimos dias, não obstante os achaques do mal que o castigava.

Foi uma vocação de historiador não concretizada totalmente, visto que os melhores e mais produtivos dias de sua vida deu-os à administração da Academia Piauiense de Letras. A história dessa instituição agora tem uma marca: antes e depois de Arimathéa Tito Filho. Amava a Academia. Amava Teresina.

Não só amava Teresina e o Piauí, estudava-os com dedicação de um amante-mor, de um apaixonado. Seus trabalhos sobre a vida social, política, histórica, doméstica desta capital dariam outro livro "Teresina, meu amor" - que é o seu livro de crônicas famoso, o mais caído no gosto dos leitores desta terra e dos intelectuais de outros Estados, donde recebeu inúmeros elogios. Sugiro que a família ou a academia englobe esses artigos, ordenadamente, num segundo volume desta importante obra para a vida espiritual dos piauienses: "Teresina, meu amor". Sugiro muito mais ainda. Desta vez, aos poderes públicos, à municipalidade, à Câmara de Vereadores: que se levante um busto ou uma estátua a esse amoroso de longo curso desta cidade fundada por Saraiva, a ser inaugurado/a no dia do aniversário de Teresina, o próximo 16 de agosto. Ou que se dê a uma rua importante o seu nome. Uma, duas ou todas essas homenagens palpáveis que a sua vida e obra fez por merecer. Seria pouco. Seria o mínimo de gratidão.

Que a sua morte não seja só falta e tristeza, porém momento de reflexão para os que mandam. Alguém disse, certa vez, que não se vive numa cidade impunemente. Eu quero acrescentar sob forma de paráfrase: ninguém ama uma cidade impunemente. Impunemente para a cidade, que terá de guardar por muito tempo, por todo o tempo as marcas desse amor.


Francisco Miguel de Moura, 27/06/1992, Jornal O Dia

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