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terça-feira, 23 de agosto de 2011

A. TITO FILHO - sob o signo da paixão

Já se disse, e com razão, que nenhum homem é maior que sua época. Mas é inegável que existem homens que, com seu esforço, contribuem para tornar menos ruim a época em que vivem. A. Tito Filho, estou certo, foi um deles.

Não fosse lugar comum, diríamos que A. Tito não foi um, foi muitos: o boêmio, o professor, o jornalista, o advogado, o polemista, o pesquisador, o polígrafo... Até onde sei, e não sei muito. A. Tito Filho teve uma existência marcada por intensas paixões, o que talvez explique a sua capacidade de realização, afinal, como queria Alain, "são paixões e não os interesses que conduzem o mundo". A paixão de A. Tito Filho pelos livros era algo incomum; lendo, escrevendo, prefaciando, comentando e, principalmente, distribuindo prodigamente livros a mancheias, consumiu boa parte de sua vida útil. Ninguém visitava a Academia Piauiense de Letras sem receber dele livros de presente, mesmo que fosse uma daquelas brochurazinhas ordinárias que se vendem no quilo nas praças de qualquer cidade. Sem o menor preconceito, lia tudo: do cordel à filosofia. Não se conclua daí que Arimathéa fosse um homem de leituras apressadas ou desordenadas; quando necessário, lia com acuidade, lia com a inteligência. A melhor prova disso está no seu ANGLO-NORTE AMERICANISMOS NO PORTUGUÊS DO BRASIL (Editora Nórdica), obra única no gênero no Brasil.

A paixão de A. Tito pela APL estava bem próxima da devoção. A ela dedicou o melhor de sua existência; conferiu-lhe a credibilidade e o dinamismo de que as academias tanto carecem. Ali recebia a todos indistintamente, mesmo os chatos incorrigíveis que a ele recorriam à cata de prefácios elogiosos. E, a bem da verdade, o "presidente perpétuo" não se fazia de rogado: distribuía-os prodigamente. É certo que, uma que outra vez, estilava nas barbas do freguês o seu humor corrosivo. Presenciei um fato que me parece digno de registro: procurado por um poeta que lhe cobrava prefácio para um "novo" livro de poemas, nem se dignou a ler os originais. Entregou-os ao poeta coma recomendação: "Pode usar aquele prefácio que escrevi há vinte anos: sua poesia não mudou".

Mas de todas as paixões, a mais escancarada foi a que devotou a Teresina, sua "cidade amada". Mesmo sem procuração ou mandato, investiu-se do papel de defensor da cidade e levava tão sério esse mister, que, não raro, amealhava antipatias generalizadas. Em defesa da cidade, comprava brigas em muitas frentes. Brigava com os pichadores que emporcalham os muros com frases vulgares; criticava os que afeiam as ruas com letreiros e placas cheias de erros grosseiros; não perdoava aos que, criminosamente, deformam o perfil arquitetônico de Teresina, movidos pelo espírito especulador. Mas o que A. Tito Filho mais fez em toda a sua existência foi tentar incutir nos habitantes de Teresina algum amor por essa sofrida cidade. Infelizmente não o conseguiu. De qualquer forma, fez a sua parte, o que o credencia a merecer a gratidão dos que lutam para transformar Teresina num lugar onde se possa morar e viver dignamente.

Valeu a pena, mestre.  


Cineas Santos, 01/07/1992, Jornal O Dia

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