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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ARIMATHÉA TITO

No adeus a Arimathéa Tito Filho dado há pouco, no Cemitério São José, dissemos que sua figura dominou a vida cultural e social do Estado por mais de um quarto de século. Escritor, polígrafo, dono de uma cultura humanística das mais bem sedimentadas, era, além disso, um artífice da palavra e um mestre na maneira de bem dizer. Animador da cultura piauiense, em todas as suas manifestações, era pessoa presente a todas as suas expressões mais vivas. A Academia Piauiense de Letras, a que emprestou o melhor de seus talentos de administrador, já sobejamente comprovada na direção do Liceu, nas Secretarias de Cultura e da Educação, muito lhe deve pelo que hoje representa na vida cultural piauiense.

Era um mestre completo em todas as formas de manifestação do pensamento. Professor brilhante, jornalista dos maiores que tivemos, diariamente prelecionava sobre os mais variados assuntos nesta mesma coluna de jornal.

Historiador e cronista de nossa história, sobretudo de nossa Teresina, cidade a que dedicava especial carinho, deixou obras do maior interesse historiográfico, como Sua Excelência, O Egrégio, Governadores do Piauí, Teresina, meu amor, Crônica da cidade amada, Sermão aos Peixes e inúmeros outros, e pôde oferecer em todos eles uma amostra de seu espírito altamente indagador dos sucessos de nossa história.

Foi também um revisor de nossa historiografia e de nossa literatura, comentando obras de Abdias Neves, José Coriolano, José Pires de Lima Rebelo, Hermínio Castelo Branco, celebrado autor de Lira Sertaneja, que com isto ganharia maior dimensão no panorama de nossa cultura.

Era realmente Arimathéa, como há pouco dissemos à beira de seu túmulo, uma figura de exceção. Sua predileção pelos humildes, pelos carentes, era um dos aspectos mais conservadores e mais significativos de sua personalidade. A eles e aos seus problemas dedicava grande parte do seu tempo, por ele administrado de maneira a aproveitá-lo em toda a sua integralidade, como se adivinhasse que tão breve dele não mais disporia.

Sua dedicação aos problemas da cultura era das mais perfeitas, eis que havia assunto que a ela dissesse respeito que não merecesse de Arimathéa o mais vivo interesse.

A Academia Piauiense de Letras, por ele organizada em padrões modernos, em sede própria obtida em sua profícua gestão, perde um pouco de sua vida tão dinâmica com o desaparecimento de um de seus maiores
presidentes.

Octávio Tarquínio de Sousa, em sua Vida de Pedro I, diz no final deste livro consagrador da rara personalidade do nosso primeiro Imperador, que ele não era um homem de ordinária medida.

Arimathéa, uma das maiores cerebrações do Piauí, não foi um homem de ordinária medida.


 
Por M. Paulo Nunes - Presidente do Conselho Estadual de Cultura do Piauí - no Jornal O Dia, 25 de junho de 1992.

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